Nos últimos dois dias muito circularam
vídeos e imagens da apreensão de um jovem durante o ato do dia 30 de Setembro
em apoio à greve dos professores, onde claramente vê-se um Tenente da PMERJ
forjando um flagrante de três “morteiros” supostamente encontrados na mochila
do jovem que foi algemado e encaminhado com brutalidade para a 5ª DP, no centro
da cidade do Rio de Janeiro.
A Unidade Vermelha – RJ vem por meio
desta nota declarar que o jovem detido em falso flagrante é um camarada
integrante, ativo e dedicado de nossas fileiras, estando presente em todos os
atos que seu tempo o permite, sem medo da repressão e sem abaixar a cabeça
diante da luta difícil, assim como todos(as) nossos(as) bravos(as) Camaradas e
companheiros(as) de luta popular.
Desde o início desta jornada que se
arrasta cada vez mais reprimida desde Maio deste ano, a PMERJ vem mostrando
mais e mais sua verdadeira face que desde sempre esteve estampada em seu
“orgulhoso” e vergonhoso brasão: a face que protege o proprietário explorador,
o Estado repressor e que tenta esmagar a luta do povo.
Agora com a greve dos profissionais da
educação, a tremenda brutalidade para lidar com os mestres de nossa nação vem
gritando ao mundo e esfregando no rosto dos compatriotas que eram cegos – fosse
por escolha ou não - à verdade do braço repressor do Estado protofascista
aquilo que muitos de nós, brasileiros, já sentíamos na pele desde que nascemos.
No vídeo mostrado no site do Jornal O
Globo, de início vê-se um rapaz fugindo de três policiais em perseguição, um desses
policiais carregando em suas mãos três “morteiros”. A população em volta tenta
acalmar os "digníssimos" senhores fardados dizendo que o fugitivo “é
só um garoto”, e recebem uma resposta clara do Major Pinto que grita, apontando
seu cassetete para um senhor: “garoto que taca morteiro na polícia?”. Para
aqueles que não se lembram, Major Pinto é o mesmo que aparece em imagens
utilizando spray de pimenta na cara de professores mais cedo no mesmo dia 30 de
Setembro, e o mesmo que recebeu voz de prisão de uma advogada por abuso de
autoridade no dia 12 de Setembro.
Pouco antes desta cena, é possível
observar o grupo de nossos camaradas no meio da rua onde os policiais perseguem
o jovem, atrás de uns cones colocados na rua, entre dois ônibus. Pouco depois,
o grupo de policiais reagrupa em um largo tangente à rua, e os camaradas logo
aparecem neste mesmo largo, andando tranquilamente, mesmo após a cena de
repressão gratuita. O Major Pinto os vê e se aproxima, já apontando novamente
seu cassetete dizendo para ninguém correr. A cena seguinte mostra o quanto foi
ridícula a tentativa de forjar o flagrante, quando o Tenente pega os mesmos
três “morteiros” que havia apreendido anteriormente e mostra ao Major, como se
dissesse que havia encontrado na mochila de nosso camarada que permitia a
revista sem resistência.
O Major então dá voz de prisão e algema
nosso camarada, que é menor de idade e não ofereceu resistência alguma, e alega
em voz alta que ele carregava três “morteiros”.
Destacamos aqui que os “morteiros”
apreendidos sequer eram morteiros, mas sinalizadores como aqueles que
torcedores levam para jogos de futebol, e com toda certeza não ofereceriam
perigo algum aos bem treinados fardados da PMERJ, tampouco poderiam ser
considerados material bélico. A tentativa de falso flagrante envergonha esta
decadente corporação, e é também uma clara tentativa de perseguição de
movimentos populares e organizações como a nossa. Isto que aconteceu com nosso
jovem camarada infelizmente não é uma novidade para muitos de nós brasileiros e
cariocas.
Acontece que, quando o BOPE e seus caveirões
entram de favela em favela, não são sinalizadores plantados, nem são ações
filmadas em meio a largos e ruas abertas. São ações em becos escuros entre
tiroteios, em que o direito de permanecer calado, que nosso camarada teve, é
uma bala corpo adentro e armas e drogas são as evidências dos flagrantes. E
isto vem sendo trazido da favela para as ruas desde o início destas jornadas
nacionais de lutas populares, e aqueles que não sentiam antes a dor de ser
chamado de criminosos cada vez mais sentem essa tortura que por muitos é
sentida desde o berço, isso se houver condições financeiras para ter um berço.
Mais tarde do mesmo dia, dois de nossos
camaradas foram detidos também no centro da cidade, resistindo bravamente à
repressão policial. Nossa guerreira, também menor de idade, foi covardemente
arrastada pelas ruas de paralelepípedos e pedras portuguesas, primeiro com uma
gravata (mata leão) e em seguida pela sua mochila, tudo por um policial chamado
Washington (não se sabe sua patente).
Essas atitudes lhe renderam feridas na
lombar e dores no pescoço e nos ombros. O outro camarada foi tentar cessar a
violência ou ao menos suavizar a ação, e foi então agredido com cassetetes na
cabeça, nas costas e nas costelas. Ambos foram encaminhados à 5ª DP e liberados
somente às 3h da manhã, e logo serão chamados para depor na Vara da Infância,
Juventude e Menor Infrator, ela como acusada e ele como testemunha.
Enquanto impõem que retiremos nossas
máscaras à força, a máscara do Estado e da PM cai sem ajuda alguma nossa, e sua
verdadeira e hedionda face antipopular é dia após dia mais escancarada.
Os inimigos do povo se destroem por si
mesmos, e é nosso trabalho, nosso dever, manter a luta. A Unidade Vermelha
grita e segura seu posto diante da repressão: não nos entregaremos; não
abaixaremos nossas bandeiras; não embainharemos nossas espadas, que são nossas
vozes e nossos braços fortes. Nossos pulmões resistentes e nossos corpos já
encouraçados de tanto sermos agredidos. Não abandonaremos a luta do povo e pelo
povo.
TODO PODER AO POVO!
À Unidade.
- Subcomandante Flávio.