quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Tirem as mãos de nossas máscaras!

Porque cobrimos nossos rostos?

A UNIDADE VERMELHA contra a perseguição feita a seus militantes, a outras organizações combativas e ao Black Bloc!
(Nas imagens acima, militante da UV com lenço no rosto e braçadeira no braço esquerdo. Na imagem ao lado a Black Flag da UV. Apesar da bandeira oficial da organização ser vermelha, a UV produziu a Black Flag como símbolo de solidariedade aos Black Blocs).

Reafirmar a autodefesa como necessidade em tempos nefastos de repressão!

Esse ano foi um ano de grande crescimento da insatisfação popular, e pelo mesmo motivo se acentuou o nível de repressão a manifestantes nos atos de rua. Muitos manifestantes que estavam ali em um protesto pela primeira vez se viam coibidos pelas instituições de repressão do Estado Burguês. Só o ego da elite e a incompetência de certos governantes não permitam perceber o que os mesmos estavam fazendo, e porque os protestos e mobilizações não paravam mesmo com a Policia em peso nas ruas. A "casta rica" não percebeu que o “cassetete alheio” e “as prisões sem motivo” são fermentos poderosos para se potencializar indignações já existentes.

As máscaras e lenços nos rostos não são coisas de hoje. Nós já usávamos a bastante tempo. O patrão conservador que reconhece o rosto de seu empregado na manifestação que saiu na TV, internet ou jornais, e o demite de seu emprego por isso, fazia desde muito tempo jovens trabalhadores taparem seus rostos. A preocupação dos pais que são lesados pela grande mídia, para com seus filhos indignados que estão nas ruas, também fez com que há muito o uso de algo que encubra os rostos fosse desde já usado.

Governantes incompetentes a serviço de Elites soltavam seus cães raivosos nas ruas. Se a repressão ao povo é ilegítima, em qualquer proporção que seja, como se esperar que o povo reagisse a repressões “sem dosagem” e “sem limitações”. Governantes sem escrúpulos, como é o exemplo do Sérgio Cabral do RJ, foram protagonistas na cruel arte o fascismo policial. Os governantes e as Elites deixaram bem claro a quem quer que fosse as ruas se manifestar: Se demanda mais policiais contra ativistas políticos do que com ‘bandidos comuns’. Nós somos um perigo iminente pior que qualquer criminoso.

Como era possível? Se esforçar pra tentar colocar mais policial do que manifestante nas ruas, e não esperar que os manifestantes não reagissem de nenhuma forma? Havia uma demanda objetiva nas manifestações de rua, estava claro até aos leigos, e ficou mais claro nas manifestações em apoio a recente greve dos professores no Rio de Janeiro. Chegaram ao cúmulo de espancar “por conta das ordens superiores” professores indefesos. Uma professora idosa morreu por inalação de gás lacrimogêneo. Uma professora que anda de cadeira de rodas quase foi espancada. Tudo isso floresceu não somente de uma ideia, mas abriu os olhos para uma demanda urgente das massas que estavam nas ruas: A sua autodefesa e proteção nas manifestações.

Quase ninguém estava disposto a ter que sair da luta e das ruas por conta de cassetadas-policiais sem motivo, e a massa queria continuar suas mobilizações. A autodefesa vem então como necessidade fundamental de quem está nas ruas. Um pouco antes de se perceber essa necessidade, veio se inserindo no Brasil em diversos estados a tática para uso em protestos conhecida como Black Bloc. Ela não é nova, inclusive há anos ela existe em diversos países Europeus. Mas isso não é de todo um mal, não significa necessariamente que “somos um país atrasado até nesse aspecto”. Se a tática Black Bloc cresceu só agora no Brasil foi mediante ao fato de que a demanda dessa tática nas lutas em solo pátrio se fizeram somente agora, e não poderia ter sido imposta antes. Ela veio num momento propício.

Um dos exemplos mais famosos que provam com experiências práticas que a tática Black Bloc têm sido uma necessidade para as manifestações foi o caso de uma professora cercada de policiais militares que foi literalmente “salva” da policia (que queria lhe bater) graças a poucos Black Blocs. Os Blacks expulsaram os policiais aos murros, madeiradas e na base da imposição revidada e da autoridade militante contra os homens que representam a autoridade do Estado Burguês!

Com o tempo então se consolida a prática. Ativistas soltos, sem vínculos com nenhuma força política, mascarados com o que podem por no rosto, com escudos de maderites improvisados, para proteção contra os ataques do Estado. Organiza-se com um tato que só quem sabe como a policia se porta, e de quem sabe se portar com a policia, pode vir a ter. Enrijecem-se nas ruas como um legítimo braço de autodefesa dos manifestantes.



A Unidade Vermelha na luta contra a passividade e inércia!

Para que conseguíssemos consolidar isso tudo que já foi abordado não foi um processo fácil. Em certas localidades do país foi necessária a articulação árdua e cansativa de agrupamentos políticos mais combativos, tal como a Unidade Vermelha e outras organizações e coletivos. Propagar a necessidade de algo como um “braço de autodefesa” para as manifestações e para nossa proteção nos atos de rua, sempre foi uma tarefa que os militantes da UV nunca deixaram de lado. Nos estados e localidades que não houvesse forças políticas combativas que conseguissem cobrir tal tarefa, meio que os “braços” de Autodefesa com mascarados iam se inserido nas massas manifestantes um pouco exaustivamente, e meio que espontaneamente, sob mais resistência que o normal, mas conseguiam ainda sim porque a necessidade de ser ter essa “proteção dos mascarados” era realmente muito grande. Acontecia um processo similar aos casos de categorias de trabalhadores que entram em greve atropelando as orientações dos sindicatos que não apoiam a paralisação (como sindicatos pelegos).

A Unidade Vermelha, como organização revolucionária que teve seu surgimento recente, surgiu neste mesmo aspecto e cresceu sob esta mesma conjuntura, em que a tática Black Bloc cresceu país a fora. Não se limitamos a nos dizer como “uma tática” onde qualquer pessoa que queira “se dizer” como Unidade Vermelha possa se dizer, fazê-la, aplica-la e etc., pois defendemos um compromisso cotidiano com a luta e com nossa organização, e não a atuação de ativistas soltos sem vínculos, mas ainda sim surgirmos no meio da passividade e inércia dos partidos e organizações de esquerda, sobretudo de Pernambuco, e combatemos essa mesma inércia.

No inicio, como organização secreta, nossos militantes não se diziam abertamente a ninguém que pertenciam a UV (na verdade ninguém sabia quem eram ou não os nossos membros). Com isso, conseguíamos mais facilmente se inserir nas articulações entre os partidos e da mesma forma, conseguíamos mais facilmente levar unidade entre as forças políticas de PE, para assim conduzir essa unidade política à radicalidade em atos. A quem via de fora, éramos indivíduos soltos que conheciam membros de diversas forças e simplesmente isso. A quem “visse por dentro” via que éramos indivíduos articulados que conseguiam fazer forças políticas inertes se moverem, que colocavam forças afastadas à fazerem mobilizações conjuntas, e levar a unidade entre essas forças unidas (antes afastadas) a um caminho contra a passividade e em prol da radicalidade. Isso tudo feito com compromisso orgânico e planejamento político.

A UV hoje devido a diversos problemas passados não permaneceu como organização secreta e passou a ser uma força de atuação pública. Mas isso não quer dizer que nossa luta contra os males do movimento parou, pelo contrário, persistiu no Brasil a fora. A organização a passos curtos e cuidadosos se expandiu a outros estados brasileiros. Em todos estes estados, cuidadosamente, desta vez já em atuação aberta, passou a identificar os indivíduos e agrupamentos mais combativos que podem colaborar com a luta, articulando mobilizações conjuntas com os mesmos, mas sempre, abrindo margem e se mantendo disposto ao dialogo com as outras forças políticas que não estivessem ainda nesse campo, para que as mesmas possam sempre estar sujeitas a avançar em seus posicionamentos e se tornar mais combativas.

A UV cresceu no estado em que foi fundada (Pernambuco), também cresceu no Pará, cresceu absurdamente também no Rio de Janeiro, e também foram fundadas bases em outros estados (a presença orgânica da UV totaliza-se em pouco mais de 10 estados).

Dentre os princípios de nossa organização sempre tivemos a autodefesa como “lei”, como algo que todos devemos carregar aonde formos. Em qualquer atividade política, caso você tenha sua integridade física atacada por um agente policial ou mesmo por um fascista qualquer, é DEVER que se reaja na mesma moeda! Esse é um princípio que todo revolucionário deve carregar e a UV carregou esse princípio a todos estados que chegou. No RJ a UV, a OATL, o MEPR, o Coletivo Lênin, dentre outras organizações, tal como em PE a UV, o MEPR, a RP (Resistência Pernambucana) e entre outros grupos, pelo menos no que diz respeito as mobilizações de rua, foram organizações fundamentais que colaboraram também para propagação do fundamental princípio da autodefesa e para aplicação da mesma. Mas claro, tudo isso com a também ajuda do crescimento do número de pessoas que usam a tática Black Bloc, pessoas essas que nos ajudaram, e que se vão se mantendo laços de ajuda recíproca entre companheiros, sob o fogo e calor da luta.

A Unidade Vermelha não cresceu a toa, mas tão somente porque também se demandava de uma organização de tática ampla que se esforçasse pela implementação e propagação do necessário uso de pessoas destacadas e/ou voluntárias para se voltar a proteção dos manifestantes, pelo uso de máscaras ou lenços que lhes protegesse da identificação da policia (por conta do risco de perseguição policial-política), e para aplicar e defender o princípio de autodefesa. E quando falamos que defendemos o direito dos manifestantes protegerem sua identidade e o direito da proteção e autodefesa, não o defendemos apenas em palavras. Propagandeávamos não só em nossas falas e discursos, mas também com a força do exemplo, pois “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Muitos se surpreendiam ao ver: militantes com lenços-uniformes no rosto protegendo sua identidade, braçadeiras no braço esquerdo com a sigla “UV”, e sob o hastear da bandeira vermelha, bem articulados e em coesão. Da mesma maneira, paralelo a isso se crescia o uso de moletons preto, toucas-ninja negras e etc., entre indivíduos soltos que praticavam o Black Bloc. Felizmente, ao que esses fatos vêm nos indicando crescíamos com uma prática e posicionamentos em consonância com as necessidades das massas que estavam (e ainda estão) nas ruas.



Partidos de esquerda: defender a combatividade não só nas palavras, mas também no exemplo!

A UV surgiu nessa conjuntura, surgiu na necessidade de se reafirmar a autodefesa e da necessidade de combater a inércia entres forças políticas já existentes. Mas não podemos alegar que a UV era a única organização de esquerda. Antes de nós existiam outros partidos que são (e outros que “alegam ser”) de esquerda.

Os partidos de esquerda, tal qual o PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCR (Partido Comunista Revolucionário), PCO (Partido da Causa Operária) e dentre outros, iam tomando seus posicionamentos acerca do que estava acontecendo. Não nego que todos estes partidos citados têm militantes valorosos no que diz respeito no “como agir” nas ruas, mas ainda sim, admitamos, não é algo tão enraizado na maioria de seus integrantes, mas tão somente em alguns poucos, muito poucos. Isso se dá, porque estes diversos partidos dá ênfases nos seus estudos teóricos e nas suas mobilizações “institucionais” como o Movimento Estudantil, por exemplo, (o que também é importante, claro), mas por isso acabam não voltando tanto suas energias para se desenvolver e se forjar nas mobilizações mais acirradas e “materiais” fora de nossas sedes e dos diretórios estudantis que estamos inseridos. E não nos cabe aqui, nesta nota, citar os problemas desses partidos ou divergência que temos com tal ou tal grupo partidário, mas sim, lembrar algo referente a esse assunto em específico que estamos tratando, que é: as mobilizações de rua.

Alguns dessdes partidos até certo tempo, ainda não tinham posicionamentos muito nítidos quanto a casos ligados aos Black Blocs, ou mesmo ligados a avaliações sobre o uso de “braços de autodefesa” e proteção para manifestantes. Esse tipo de coisa em geral. As vezes não necessariamente porque eles cogitavam se situar contra, mas muitos, porque não estavam vivenciando aquilo na prática, ou pelo menos não profundamente como a UV e outras organizações vivenciaram. E como qualquer partido que estava vendo a coisa um pouco “de fora” sobre essas articulações, é normal que se tenha leituras não aprofundadas, e que não se tenha posicionamentos não tão firmes (isso é, um “posicionamento tímido”).

Mas as mobilizações foram se acumulando e se acirraram muito, e os partidos, pelo menos os que ainda se situam num campo mais à esquerda, acabavam sempre sendo levados pelo endosso das indignações, e acabaram por ficar bem menos “por fora” do que antes, inclusive, bem “por dentro” das ações mais acirradas, ações mais radicais, contribuição em autodefesa em atos e etc. Ou pelos alguns dos partidos, não todos. Estes partidos, no geral (os que estavam tomando posicionamentos mais avançados sobre a questão) poderiam até não dirigir ou ser responsáveis por coordenar os atos de radicalidade nas ruas, mas apesar de não terem dirigido tais ações, não as reprimiram, pelo contrário, no acúmulo das lutas, participaram de tais ações conjuntamente com as massas indignadas nas ruas. Mas lembremos que não foram todos partidos que se dizem de esquerda que fizeram o mesmo.
      No Rio de Janeiro, recentemente ocorreu o noticiado “Leilão de Libra”, o mais recente caso de grande privatização do nosso petróleo a megaempresários internacionais. Além das condições absurdas que somos submetidos no transporte coletivo, o governo federal executa essa ação para benefício dos imperialistas sedentos de petróleo, e ainda coloca a Força Nacional a disposição desses mesmos imperialistas para “proteger o leilão contra baderneiros”. Para muitos isso foi o estopim. Protestos em prol de um transporte realmente público e de qualidade, em apoio aos professores, e o governo federal fazendo mais do que nunca deveria ter feito. Como foi falado, foi o estopim. Apareceram então, agora não somente ativistas travestidos de negro e com toucas-ninja, mas também ativistas encobertos de vermelho e com suas bandeiras partidárias. Os companheiros de luta do PCO, PCB, PCR e individuos do PSOL (que não sabemos a que tendência do partido pertence, ao que tudo indica, eram militantes soltos, e possivelmente não centralizados), no Rio de Janeiro segundo os relatos e segundo imagens, foram os partidos que se tinham militantes presentes em destacadas ações radicais no protesto contra o “Leilão de Libra”, com escudos para proteção deles e do resto dos manifestantes além de estarem dispostos a atacar caso fossem atacados pela repressão (As duas imagens ao lado mostram militantes jovens desses mesmos partidos). No episódio do Leilão de Libra até atribuíram a eles a alcunha de linha de frente Red Block que atuaram juntamente com os que já haviam desde muitos e muitos atos realizado blocos de autodefesa. A antiga defesa tímida de partidos aos Black Blocs, agora se faz como uma defesa por meio do exemplo, visto que nesse momento tais partidos se demonstraram dispostos a destacar militantes para colaborar nas ações praticas, e espero que assim eles o continuem e que levem essa postura a todos estados que eles estejam presentes (isso talvez não tenha acontecido hegemonicamente no país, mas mais no Rio de Janeiro, com certeza).

    Mesmo para aqueles militantes que não tenham simpatia alguma com estes partidos, reconhecer que esta a postura deles adotadas no importante ato do Leilão de Libra foi altamente avançada, é necessário. Tal como também reconhecer que os posicionamentos que eles estão tomando em relação aos Black Blocs também. O que lhes falta mais em relação a estar mobilizações de rua, é adentrar mais nesse meio e se manter nessa linha, além de se forjarem mais nesse tipo de mobilização. Contudo, não reconhecer essas posturas como avançadas, é infantilidade e sectarismo para com essas organizações.

O PCO também merece nossos elogios por outras coisas. No Rio de Janeiro nos foi informado que alguns militantes soltos do PSOL estiveram presentes em ações de resistência no Leilão de Libra, no entanto no mesmo partido se tinha outros setores e outras tendências, setores estes presentes inclusive no Rio de Janeiro, que publicara notas, e demonstrara em ações práticas o quão errados estão em suas análises e em sua práxis. Denunciando essas práticas e posicionamentos, o PCO foi um dos partidos que expôs este problema com mais afinco, e foi dentre os partidos citados o que mais abertamente saia em defesa dos BB’s. Entre suas notas, as mais famosas foram “A burguesia e o governo não precisam de polícia nas ruas; eles têm o PSTU e o PSOL” e “Por que a ação dos Black Blocs tem tanta simpatia da população?”. Talvez nestas notas, todos os membros do PSOL foram generalizados pelo PCO, mas ainda sim, as denuncias consistiam sobre constatações reais em relação aos feitos do PSTU e de significativos setores do PSOL.

Partidos nem tão de esquerda assim: certos discursos em frente única com a imprensa burguesa.
Falei bastante do PCB, PCR e PCO, e também de alguns poucos indivíduos do PSOL que partiram pra resistência e que estão defendendo posicionamentos avançados. Mas nem tudo são flores, e nem todos partidos são realmente vermelhos. Nem todos que se dizem de esquerda implementam práticas que condizem com o que realmente pode ser considerado de esquerda.
O alto escalão da repressão no momento está irritadíssimo com o fato de não poder reprimir os manifestantes tão facilmente quanto antes. Os jovens nas ruas organizando suas “tropas de choque das manifestações” fazem com que sempre que os agentes da repressão nos atacarem acabam sempre sujeitos a serem atacados na mesma moeda, ou na melhor das possibilidades, de nem conseguir chegar a atacar um manifestante indefeso, por estar protegido. Isso tudo, deixa não só os altos escalões da Policia Militar irritado, como também a Elite e seus subservientes governantes. Dessa maneira colocaram a imprensa burguesa para fazer de maneira mais intensa, o que já antes faziam: Propaganda negativa dos manifestantes mais radicais, e agora, uma publicidade pesada contra os Black Blocs. Enaltecendo o discurso da classe média domesticada de que “eu acho manifestações legítimas, mas a partir do momento que eu chego numa manifestação e vejo um monte de gente mascarada...”, ou mesmo dos que dizem “eu gosto de manifestação de rua, até fui naquela que a Globo divulgou um monte, só não gosto de vandalismo e de mascarado...”. Além disso, repetiam-se palavras como mascarados, vandalismo ou baderneiros milhares e milhares de vezes na televisão, na velha prática da imprensa medíocre e mentirosa de que se repetir uma mentira mil vezes lhe tornará uma verdade.

É lógico que se a Elite quer bater através de seus cães de guarda em manifestantes indefesos ela irá o fazer. Mas e quando eles se tornarem não tão indefesos assim? E quando eles passarem a tomar consciência de que devem se proteger e reagir as porradas que sempre leva? Ele irá se organizar, ele irá se armar para se proteger, e logicamente a Elite vai utilizar sua voz, que é a imprensa, para sabotar justamente esses instrumentos de proteção dos manifestantes. E é o que ela vem fazendo: Publicidade negativa a fim de acabar com os Black Blocs e todos os mascarados, já que qualquer mascarado pode ser um potencial manifestante que saiba se defender e defender seus irmãos de luta.

Eu não sei se por oportunismo ou por algum problema que ofuscasse suas visões, mas certos partidos que são (ou pelo menos se dizem) de esquerda deram a entender que NÃO ENTENDERAM ou NÃO QUERIAM ENTENDER isso.

Em nota, Zé Maria, presidente Nacional do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) saiu em defesa de algo não muito diferente do que a imprensa burguesa também quer. Sua nota tinha um título como: “VIVA A LUTA DOS EDUCADORES DO RJ, E CHEGA DE BLACK BLOCS!”. A Contradição já se faz no título. Os próprios professores do Rio de Janeiro saiam em defesa dos Black Blocs porque foram justamente eles, os professores, que foram os mais beneficiados pelos Blacks. Os professores que estavam sempre sujeito a apanhar da Policia Militar do Rio de Janeiro viram na prática, e nas ruas, a necessidade de jovens preparados para a autodefesa, para que os protegesse da violência alheia. Comemorar a luta dos educadores do Rio de Janeiro sem agradecer aos Black Blocs era uma contradição sem tamanho.

O destacado trecho de seu título “Chega de Black Blocs” clamava a mesma coisa que a Elite e o Estado Burguês vêm clamando. E é inadmissível que um partido que se diga de esquerda faça coro conjuntamente com a voz de nossos inimigos, isso é, a imprensa burguesa.

Além do PSTU, governistas da frente PCdoB/PT rechaçavam todo tipo de ato mais combativo, todo tipo de resistência mais dura contra as Elites e ao Governo. Mas deles era de se esperar, visto que o PCdoB e o PT fazem parte de um esquema eleitoreiro onde estão submetidos e se mantém servientes as Elites, e foram eles mesmos (o PT) que colocaram a Força Nacional para reprimir os manifestantes durante o Leilão de Libra, além de que foi o PCdoB que apoiou o leilão. Mas quanto a eles, a Unidade Vermelha não tinha mais surpresa alguma. Não esperávamos muita coisa de quem já sabemos que são vendidos ao governo federal (governo esse, que é vendido aos grandes acionistas e banqueiros).

Outra coisa que nos intrigou, foi uma nota do Juntos (juventude do MES, que é tendência do PSOL), escrita por um certo Pedro Serrano. No título, a nota tinha com todas as palavras “EU NÃO ESCONDO O MEU ROSTO”. Pode parecer um título de algum texto de manifestante despolitizado guiado pela revista VEjA. Pode parecer um jargão de algum cara da classe média, o velho “domesticado” que luta “só contra a corrupção”. Esse título cabe em muitas situações, mas não foi a nenhuma dessas. O título foi nada mais nada menos de uma pessoa, que pelo encargo que carrega numa organização que se diz de esquerda, deveria ter no mínimo mais responsabilidade com as palavras.

Na nota Pedro Serrado do Juntos falava: “...Queremos tomar as lições de junho. Defendo profundamente o direito daqueles que o fazem, mas estou todos os dias na rua e discordo da tática dos Black Blocs. Estou todos os dias na rua e não escondo o meu rosto.”. Declaração no mínimo infeliz num momento em que as Elites e a mídia querem justamente vetar nossas máscaras, nosso direito de autodefesa e nosso direito de preservar nossos rostos por conta de perseguição policial/política.

Desses partidos, o mínimo que eles poderiam fazer, é, ambos publicarem declarações de autocrítica e reformularem suas opiniões erradas. Para quem não está cotidianamente no fogo da luta[1], analisar justamente esse fogo no mínimo vai lhe custar análises erradas ou baseadas em julgamentos precipitados, sobre situações onde “só quem está por dentro” pode entender, e é isso que lhes falta antes de qualquer coisa.


Os Black Blocs sempre acertam? Como os Blacks agem em diferentes localidades e como agir mediante seus erros?

Então, as atitudes dos Black Blocs não estão passiveis de críticas caso elas estejam erradas. Há em certos que certas pessoas que utilizam dessa tática de protesto passam dos limites, no que se refere a depredações e coisas do tipo. Mas não falo de todas, não estou aqui para deslegitimar “toda e qualquer depredação”, pelo contrário: “Longe de opor-se aos chamados excessos, aos exemplos de vingança popular sobre indivíduos odiados ou edifícios públicos aos quais só se ligam recordações odiosas, não só há que tolerar estes exemplos mas tomar em mão a sua própria direção. Durante a luta e depois da luta, os operários têm de apresentar em todas as oportunidades as suas reivindicações próprias a par das reivindicações dos democratas burgueses.” (Marx/Engels – Mensagem da Direção Central à Liga dos Comunistas). Não deslegitimamos ações que do nosso ponto de vista moral não estão erradas. Se são as classes mais exploradas de nosso país que mais transparecem fazer as ditas “ações radicais” e “vandalismos”, não seremos nós que o condenaremos, o Estado Burguês já faz isso.

Lembremos-nos dos trabalhadores no metrô em Recife, quando chegaram a atrasar mais de quarenta minutos o trem, e não deram nenhuma explicação aos trabalhadores que precisavam daquele transporte pontualmente. O que ocorreu foi uma destruição de catracas, ataques a estação e etc. Outro exemplo recente, foram os ataques nas estações de trem na cidade do Rio de Janeiro, como também o posterior trem incendiado por trabalhadores. Em outro caso de alguns meses atrás, houve também no Recife em uma BR (estrada) uma manifestação dos operários de SUAPE, onde fecharam a via com ônibus incendiados. Foram jovens vagabundos infiltrados? Adolescentes baderneiros que se infiltraram numa manifestação legítima? Bem longe disso. Foram trabalhadores que sentem na pele a exploração e opressão todos os dias.

Então, se não achamos tais práticas imorais, quais problemas nós vemos nos Black Blocs em relação a essas práticas? Pois bem, a pergunta nem chega a ser difícil. Ela não é difícil, mas tem respostas diferentes mediante cada localidade devido a particularidades das conjunturas nos diferentes estados.

No Rio de Janeiro, por exemplo, é o local onde as mobilizações conseguiram melhor do que em qualquer lugar do país, atrair mais as massas da periferia (que concentra a população mais explorada). Estes mesmos indivíduos do universo periférico tem bem mais ciência de sua condição e de seus inimigos. Eles sabem melhor demarcar os alvos, e cotidianamente vivem sob o higienismo e a repressão das policias na favela adentro, que dirá no trato com policiais violentos com balas de borracha. E como é lá o local onde essa população pobre e marginalizada mais se inseriu nas manifestações, é justamente lá, onde o Black Bloc teve mais inserção para com os favelados. Por isso, no Rio de Janeiro não se tem muito o que reclamar das ações dos mesmos.

Em outros estados, como em Goiás, diferentemente do Rio, as mobilizações não tem tanta inserção na periferia. Se tem muitos estudantes que praticam o Black Bloc, mas não são muitos Blacks que são mais oriundos das classes mais exploradas e das comunidades mais marginalizadas (periféricas). Consequentemente suas praticas estão mais sujeitas a erros, visto que boa parte são pessoas que não tem o mesmo tato que os Blacks do Rio de Janeiro. Por vezes os mesmos são inconsequentes, agem antes de haver qualquer atitude de represália da policia, quebram a frente de lojas de pequenos-burgueses (que também são prejudicados por nossa ordem social), além de abandonarem os outros manifestantes em plena chegada da repressão, quando deviam na verdade resistir e protegê-los. Atitudes como essas acabam afastando a classe trabalhadora das mobilizações e “sujando” um pouco o nome do Black Bloc na região.

Em Pernambuco, há uma conjuntura nas mobilizações parecidas com a de Goiás, no entanto, o Black Bloc de PE não chega a ter experiências tão desastrosas e porra-loucas quanto as de lá. Existe meio que uma maior coesão e um pouco mais organicidade, e da mesma maneira, há menos atitudes espontâneas e inconsequentes, mais ainda há. Em PE mediante ataques da policia, os Blacks certa vez derrubaram fileiras de motos estacionadas (como um dominó), e no dia 23 de Outubro depredaram os vidros de poucos carros estacionados. Ambas as ações erradas, dignas de duras críticas. Temos de lembrar que no Brasil, inúmeros trabalhadores também possuem motos ou carros, e aquelas motos ou carros podem ser de trabalhadores que justamente queremos atraí-los a luta, e não afasta-los. Porém, em Pernambuco não chega a uma situação tão desastrosa quanto em Goiás, visto que aqui, somente se tem relatos dessas duas ações inconsequentes dos Blacks em PE, e que foram cometidas como reação aos tiros, porradas e bombas da policia, enquanto que em Goiás se cometem muito mais ações desse cunho, e quase nenhuma é alguma reação no calor do momento a ações da policia (como foram em PE), mas sim, práticas erradas iniciadas por eles mesmos.

Diferentemente em São Paulo e muito mais no Rio de Janeiro, os Blacks não são tão imaturos assim, são mais coesos, e exercem mais a sua função. Se focam também, em denunciar os inimigos da classe trabalhadora por meio de seus alvos nas ruas, mas de maneira mais organizada, mais planejada e menos inconsequente e quase sempre, somente quando são atacados pelo Estado (por meio de sua policia), e sem nunca esquecer o seu caráter de resistência e proteção contra a violência dos cães de guarda da Elite, diferentemente dos muitos que fogem como em GO.



Um ultimo recado.

As ações erradas do Black Bloc não devem ser passadas em branco. Sim, devemos critica-los. Mas isso tudo deve ser feito de uma maneira como se faz uma crítica a um companheiro de luta, uma crítica feita a fim de fazê-los abandonar certas posturas erradas e dessa maneira fazê-los avançar politicamente. Isso é muito, mas muito diferente de fazer coro com a mídia burguesa, soltando declarações exigindo “CHEGA DE BLACK BLOC”, pedir que não se usem mais máscaras, ou mesmo soltar outras jargões como “EU NÃO ESCONDO MEU ROSTO”.

Estes agrupamentos parecem que esqueceram porque nós partimos para ações de resistência, parecem que esqueceram porque cobrimos os nossos rostos. Se tínhamos motivos para taparmos o rosto antes, agora nós temos muito mais. Foi porque um militante da Unidade Vermelha teve seu rosto reconhecido, que sua casa foi invadida e ele foi acordado por policiais militares portando três armas apontadas para sua cabeça (esse incidente ocorreu no Pará); foi por ter o rosto reconhecido, que o Alê foi praticamente sequestrado e sujeito a violência policial para ele soltar informações sobre outros manifestantes (incidente ocorrido em Pernambuco). E não se limitam a esses casos, como ocorreram muitos no Brasil.

Nós da Unidade Vermelha, inúmeros outros militantes de partidos mais combativos e outros movimentos ou coletivos políticos também mais combativos, parecem representar uma ameaça a ordem vigente mais do que outros grupos mais inertes (é a explicação mais plausível). Justamente por isso, não podemos nos dar ao luxo de facilitar o trabalho da repressão. Não podemos e nem devemos facilitar que eles registrem nossos rostos. Se você for alguém que não representa ameaça para eles, e por isso não está tão sujeito a repressão quanto nós “mascarados”, tudo bem por nós você não esconder sua cara, mas não precisa “falar groselhas” e fazer coro com a voz midiática da Elite.

E ainda sim, se certa organização “não esconde o rosto” nem está tão visada pelo inimigo, isso é um mau sinal para essa organização, pois significa que não delimitou bem seu campo de atuação entre essa organização e o inimigo. Significa também que sua prática não incomoda o inimigo de uma maneira efetiva. Significa bastante coisa, e a maioria delas, coisas nada boas, mas sim, coisas bastante negativas.

Que a Elite e seus órgãos de repressão compreendam que nós não abaixaremos nossa guarda por tão pouco! Nossas máscaras, toucas, lenços nos rostos e tudo mais não serão abaixados tão somente porque vocês jogam seus cães de guarda para nos ordenar a tirá-las. Tirem vocês as mãos de nós e de nossas máscaras. Da mesma forma não será pelo clamor de declarações da pseudo-esquerda que as “tropas de defesa das manifestações” sairão das ruas ou deixarão de cobrir os rostos.

Isso é um recado a pseudo-esquerda. E uma resposta a Elite e seus lacaios armados!


TIREM AS MÃOS DE NOSSAS MÁSCARAS!

APOIO AOS BLACK BLOC’S DO BRASIL!

ABAIXO A PSEUDO-ESQUERDA!

MORTE AOS ORGÃOS DE REPRESSÃO!

- Comandante Cícero.
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Notas:

[1] – Fogo da Luta aqui se refere a uma metáfora. O Fogo seria algo em referência a prática de ações mais radicais, de articulação da autodefesa manifestante, de resistência nas ruas a repressão e etc.