domingo, 23 de março de 2014

Xenofobia, Etnia e Questão Indígena

A questão da diversidade cultural apresentada em nosso país é debatida incessantemente. Um país multicultural e pluralmente constituído sofre também com as intolerâncias ao estranhamento oriundo de tanta diversidade. A Unidade Vermelha como organização revolucionária que defende as minorias deve estar atenta às nuances provindas dessas diferenças.

Como resultado de nossa colonização e dos muitos povos que passaram pela terra temos consequências sociais presentes, logo ao passo que temos um maiores territórios do globo sofremos também pelas diversidades espalhadas por esse território. Temos diferenças significativas entre as regiões, que tangem características físicas e culturais marcantes e impossíveis de serem ignoradas, e que chegam a trazer tal estranheza a ponto de criar um sentimento separatista por não se sentir incluso dentro do que entendido como cultura brasileira.

À esquerda, indígena da Aldeia Maracanã sendo detido pela PMERJ, Rio de Janeiro, Brasil.
À direita camponeses e indígenas zapatistas, no México.
A cultura Brasileira é fundamentalmente um mito, baseada em personagens e histórias mentirosas na tentativa de deturpar a realidade e de não admitir a pluralidade do que é realmente ‘o ser brasileiro’. A ideia de unificação da cultura apenas serve para criar ideias falsas de unificação e ao perceber as diferenças fazem o próprio brasileiro negar culturas constituintes da sociedade, criando estranhamento a outros povos, raças e etnias.

A xenofobia é normalmente relacionada a não aceitação do que é estrangeiro, no sentido de fora do seu país, quando na verdade é a pura negação ao que é diferente da cultura hegemônica, de seus costumes, suas crenças. Isso é demonstrado toda vez que se rejeita um outro modo de ser, pessoas com sotaques diferentes imediatamente são estigmatizadas (como acontecem com os nortistas e nordestinos), junto com o sotaque é atribuído uma carga negativa a sensos comuns do que é ser de determinada localidade, o que demonstra um sectarismo entre nosso próprio povo. Não é interessante para a luta revolucionária que o povo crie ódio entre iguais, não é esse apenas um discurso demagógico de aceitação da diversidade da sua própria sociedade, mas o reconhecimento que nossas diferenças são usadas contra nós mesmos, o povo, o proletariado, e que nosso inimigo deve ser um só, o sistema que nos aprisiona e nos torna competitivos entre nossos semelhantes.

O regionalismo dentro do Brasil tem sido obstáculo para a revolução desde que se estruturou e foi incentivado pela burguesia, pelos meios de comunicação, pelo governo e pelos “intelectuais” burgueses, para implantar no seio do proletariado a ideia de que uma determinada região produz toda riqueza do país ou “sustenta” outra região. Tal discurso busca fracionar a classe trabalhadora brasileira, fazendo com que os próprios operários acabem por criar uma xenofobia contra seus irmãos proletários de outras regiões. Temos isso bem exemplificado na relação Sul x Nordeste.

Cabe a Unidade Vermelha e a toda organização verdadeiramente revolucionária buscar desfazer esse preconceito xenofóbico que a burguesia implantou no proletário. Devemos agir, neste sentido, buscando maneiras de mostrar a questão classista que envolve o preconceito regionalista.

Para além disto, temos também a questão internacionalista. O imperialismo, apesar de globalizado, busca dividir os países e criar rixas entre os trabalhadores de diferentes países a fim de evitar que tais trabalhadores unam-se em uma frente internacional. Como exemplo deste preconceito entre proletários tem vários países europeus, e a questão dos imigrantes latinos americanos nos EUA. Tem-se, também, um preconceito dentro da própria esquerda, onde se odeia todo produto norte-americano; tal preconceito que pode ser caracterizado xenofóbico, por se tratar de uma ignorância por parte de quem o tem. O ódio contra os norte-americanos que muitos militantes da esquerda têm é fruto de uma ignorância e da falta de consciência de classe para além das fronteiras nacionais: O povo norte-americano não é culpado pelos atos de seu governo, devemos nos solidarizar e buscar cativar cada vez mais o trabalhador norte-americano que, como nós, também é explorado pela sua burguesia que, hoje, é a mais poderosa do globo.

Nessa linha temos ainda a análise sobre etnias, um marcador que diferente da cultura é muito mais subjetivo, ligado à um grupo pequeno e restrito ligados por questões amplas, o maior exemplo disso é no que tange o Brasil, os Índios. O imaginário indígena muito embora presente na cultura brasileira, tem seu lugar alienado diante a imposição da colonização europeia no Brasil. A questão indígena é altamente deturpada e hoje em dia burocratizada pelo mesmo etnocentrismo europeu que os marginalizou.

Criou-se o mito do índio como um ser despido de pudores ou de esperteza da qual o europeu impôs um processo de aculturação e escravidão do povo indígena. A resistência indígena dura até os dias atuais. Juntamente com o estereótipo indígena imposto, criou-se também o mito de que o povo indígena era um só, sem diferenças, apenas com mutualidades, o índio passou ser então nada além de figura de lendas, titular de direitos dados pelos mesmos que os oprimiram e terras demarcadas sem respeito nenhum a suas peculiaridades.

Falar sobre o índio é necessariamente falar sobre a questão agraria e a questão ambiental, ao passo a cultura indígena está diretamente ligada a significação da terra, dos rios e das plantas, mesmo que hoje o próprio indígena se vê exterior a suas raízes, e em consequência as significações envolvendo sua terra e seus meios de subsistência. A realidade do indígena é a realidade de um povo que luta pela retomada de suas raízes étnicas, do respeito retirado da significações ligadas a essas.

O indígena não é a simplificação ou um estereótipo estampado na mídia aberta, o índio não é propriedade do governo federal e suas questões não merecem apenas prosperar mediante situações fatídicas que são usadas para mistificá-lo como um povo violento que quer mais do que o bondoso governo, mandado e desmandado de interesses privados, pode lhe dar. Os índios tem direito a sua terra por simplesmente darem a ela a razão social constitucionalmente prevista.

Nesse sentido a Unidade vermelha tem como diretrizes de sua defesa ao indígena e de combate a xenofobia e aos preconceitos regionalistas:

1- Pelo combate ao preconceito contra todos e quaisquer povos estrangeiros!

2- Combate aos preconceitos regionais contra os nortistas e nordestinos, e pela valorização cultural de todas as culturas regionais de nosso país!

3- Que a crítica e o combate ao imperialismo cultural não sejam confundidos com preconceitos contra a cultura e os povos de quaisquer países, mesmo os imperialistas!

4- Pela promoção da autodeterminação do povo indígena como povo digno do que lhes é pertinente em respeito aos seus aspectos culturais!

5- Pelo combate ao estereótipo de violência e selvageria ligada ao índio, que apenas serve ao interesse burguês e latifundiário!

6- Pelo rechaço a qualquer política que fira não apenas a autodeterminação indígena, mas que ponha em risco o meio ambiente estável e saudável a qual lhe é garantido, e principalmente em detrimento de interesses do capital, que ignora a cultura tradicional e passa por cima das significações atribuídas ao meio ambiente por aquele povo!

Essa ignorância que a burguesia joga o proletário, seja com relação ao regionalismo xenofóbico ou a questão étnica/indígena, faz com que a classe trabalhadora sofra com o fracionamento e desunião. Portanto cabe a nós, enquanto revolucionários, abrir os olhos do proletário desta armadilha burguesa e tentar implantar, no seio de cada movimento das minorias a questão classista que as coloca excluídas da mídia e, consequentemente, da visão e compreensão da maior parte da sociedade.