terça-feira, 22 de julho de 2014

Nota aberta a todos militantes da Unidade Vermelha


1. O que propiciou a origem da Unidade Vermelha

Em fevereiro de 2013, em Recife (PE), alguns jovens revolucionários independentes passaram a se reunir e se organizar preocupados com a fragmentação da esquerda e a pouca combatividade das lutas de massa no país. Acreditavam que sem uma ação radical as lutas jamais seriam capazes de incomodar o Estado, e que era fundamental defender e insuflar a violência revolucionária das massas, mostrando-lhes com o exemplo da ação que podemos e devemos reagir contra a violência institucional das classes dominantes. Também se preocupavam com o pouco esforço que as organizações de esquerda, tanto de alas mais revolucionárias como das mais moderadas, de conseguir se unir minimamente para organizar e construir as lutas populares. Determinados a dar sua parcela de contribuição para mudar este panorama, estes jovens – talvez loucos, talvez apenas audaciosos – decidiram criar uma nova Organização.

A esta nova Organização, estes camaradas deram-lhe o nome de Unidade Vermelha, em referência a luta pela união da esquerda que defendem como princípio fundamental.

2. Resultado prático desta linha política

A partir de Junho de 2013 a Organização passou a se expandir pelo resto do país como rastro de pólvora, chegando-se as cinco regiões do país. Seu programa de 12 pontos contagiou muitos jovens pelo país que estavam cansados da passividade e da fragmentação da luta popular. A justa linha traçada pelos seus dirigentes conseguiu ser capaz de fazer com que a Organização ganhasse destaque e respeito pelas mais variadas forças de esquerda do cenário político nacional.

A esquerda, intervenção da FIP em ato, com participação da Unidade Vermelha registrada na foto (clique para ampliar).
A direita, faixa da FLTP, a frente com os setores moderados do cenário político pernambucano.
Em Pernambuco, o prestígio crescente da UV despertou inveja, por um lado, e intentos de cooptação por algumas forças políticas, mas que se conseguiu resolver devido ao grande e paciente esforço dos camaradas pernambucanos empenhados a se manterem fiéis ao seu discurso de lutar pela unidade do movimento. Desta forma, aos poucos, foi sendo possível garantir o respeito e a independência política e ideológica da Organização.

A esquerda, uma das fotos do mais combativo ato de Pernambuco da história recente do qual o camarada Dantas foi dito como "líder".
A direita, imagem do Jornal do Comércio em matéria que tratou da perseguição ao camarada Dantas e a Unidade Vermelha.
Para exemplificar, os companheiros da UV em Pernambuco contribuiram decisivamente na fundação da FIP (Frente Independente Popular), agregando os grupos mais radicais, sem no entanto romperem com a FLTP (Frente de Luta pelo Transporte Público), que agregava os partidos tradicionais como PCR, PSTU, PSOL, e algumas correntes do PT. Sem deixar de criticar as vacilações 'direitistas' de alguns grupos da FLTP, ao mesmo tempo que também se posicionavam contra alguns excessos e posições “esquerdistas” e “espontaneístas” que chegaram a ser defendidas por membros da FIP, os camaradas de Pernambuco conseguiram com dificuldade ficar por muitas vezes em uma linha tênue, muitas vezes até não perfeitamente compreendida, mais que era essencial para o triunfo de uma maior unidade e radicalização das lutas políticas no Estado. Emblemáticos são dois exemplos: O protesto memorável do dia 21 de Agosto de 2013 que foi unificado entre as duas frentes (FIP e FLTP), sobretudo graças aos esforços da UV-PE. Este protesto foi o mais radicalizado e combativo da história recente no estado, onde o camarada Dantas foi apontado como líder da passeata  que teve como saldo o ataque à Câmara dos vereadores, mais de 60 ônibus depredados e um incendiado. O outro exemplo, foi no protesto do dia 18 de setembro, também unificado, onde o camarada Torres foi o preso (sendo o único militante no estado enviado a um presídio no período), e que contou com a solidariedade sobretudo do MEPR, mas também das mais variadas forças políticas no estado. A linha justa e correta do programa de 12 pontos cumpria na prática seu objetivo, contribuindo para unificar o movimento e elevar sua radicalidade.

A esquerda, de gandola militar, o Comandante Torres sendo encaminhado ao presídio (o único entre os 16 detidos mandado ao COTEL por desmandos da SDS).
A direita, dia em que em peso forças integrantes da FIP (Resistência Pernambucana, MEPR, etc.), mais representantes das mais variadas forças políicas de PE (PCR, PCB, PSTU, e etc.) foram prestar solidariedade aos camaradas da Unidade Vermelha e receber o camarada Torres ao sair em liberdade do COTEL.

3. Rápida ampliação do Comando e omissão de posições

O crescimento e expansão da UV pelo país levou, seguindo os princípios democráticos  que sempre nortearam seus fundadores, a rápida expansão do Comando Nacional, abrindo espaço para que as novas bases pudessem nele se representar. Entretanto, alguns membros novos deste Comando omitiam suas posições e intenções verdadeiras, que era a de modificar por completo os princípios e o programa da Unidade Vermelha. Fingiam cinicamente concordar com os pontos principais do programa, sobretudo no que se refere à sua amplitude tática e sua defesa de construção de uma ampla frente progressista e patriótica entre a esquerda.

Sem defender honestamente estas posições, eles esperaram o momento mais oportuno para tentar decididamente mudar a justa linha política da Organização e impor gradativamente suas teses esquerdistas. Este momento se iniciou quando do afastamento do camarada Torres por problemas pessoais, e do Dantas por problemas de saúde e sua posterior licença temporária do Comando devido a necessidades profissionais. A partir da menor dedicação dos membros que verdadeiramente se preocupavam e prezavam pelo programa e pelos princípios responsáveis pela criação da UV.

4. Descumprimento do Programa e dos Princípios básicos da UV

Frequentemente e de forma cada vez mais intensa, alguns membros do Comando, acobertados cinicamente por outros, passaram a hostilizar generalizadamente todos e quaisquer partidos que consideravam “oportunistas”, salvando-se apenas o MEPR e agrupamentos anarquistas. O Daniel Mont'Serraint chegou ao absurdo de defender publicamente que a sede do PSTU fosse queimada e depredada (nossas divergências com este partido são inúmeras, mas jamais um membro de uma direção nacional de uma Organização responsável e madura faria tamanha sandice). Recorrendo a formações temporárias de tendência para garantir a aprovação de determinadas posições, passando à exaltação acrítica das FIPs e desprezando quaisquer mínimas alianças com grupos "menos extremistas", como o PCB, a JCA, o PCR, etc., tachando os generalizadamente como “oportunistas”, “pequeno-burgueses” e até mesmo contrarrevolucionários.

ANEXO 1: Uma das formações temporárias de tendência dentro do Comando, estatutariamente proibidas.

O alvo prioritário era o PCB, partido que construía com os camaradas pernambucanos a o Movimento de Universidade Popular. Para desprestigiar ainda mais o engajado trabalho militante dos camaradas de Pernambuco (no intuito principal de desestabilizar e sabotar a liderança do Comandante Geral Torres), chegaram a ameaçar obrigar os camaradas de PE a romper com o PCB, e em outras declarações (também públicas) o mesmo Daniel Mont'Serraint chegou repetidas vezes a desprezar a importância do movimento estudantil, desdenhando completamente do trabalho recém-iniciado em PE, mais uma vez de forma pioneira nacionalmente, em criar uma célula exclusivamente universitária, participando inclusive da disputa do DCE da Universidade Federal de Pernambuco.

Este mesmo membro chegou ao disparate de dizer dentro do Comando que o Programa da UV era “reformista” e que isso era “problema de quem o escreveu”, demonstrando claramente seu esquerdismo e que omitia suas posições verdadeiras quando entrou para a Organização, jurando defender seu programa revolucionáro.

ANEXO 2: Programa revolucionário "reformista" (sic!).

Zombando do trabalho de base, apostando unicamente nas táticas de protestos de rua radicalizados, alguns membros do comando deixavam claro suas intenções de transformar a UV, não em uma Organização revolucionária séria e consequente, mas sim em um grupo inconsequente e irresponsável baseado exclusivamente em protestos radicais, zombando do trabalho de base e da formação ideológica de nossos militantes, contribuindo não para unificar à esquerda nas lutas populares, mas sim em dividi-la e fragmentá-la ainda mais, renegando por completo o programa da UV, em especial em seu artigo primeiro, que como falado anteriormente, dita o próprio nome da Organização.

5. Critérios de emulação ao Comando e desrespeito a autonomia das mulheres

Estes desvios que repercutiram diretamente na teoria e na prática de atuação do Comando Nacional, chegou ao absurdo de desprezar os critérios minimamente responsáveis de emulação dos companheiros, utilizando-se dos mais diversos subterfúgios para impor uma decisão completamente antidemocrática referente ao ingresso da companheira Lara no Comando Nacional.

A mesma tinha se retirado da organização a alguns meses, sendo apontada pelo seu próprio irmão como responsável por denunciar a sua mãe críticas políticas que recebia do coletivo, demonstrando não saber separar problemas familiares dos políticos, seu irmão de seu dirigente, chegando ao ponto de insinuar que a direção seria compostas de “porcos”. Com sua inegável evolução, a companheira voltou a organização e em exatos três meses posterior a seu reingresso seu irmão a indicou do Comando, sem haver minimamente um tempo hábil para que essa evolução se consolidasse na prática.

Se valendo de sua relação amorosa com outro membro do Comando seu nome foi aprovado absolutamente por “coleguismo”, mas isso não é o mais grave. O mais grave é que para tanto foi rejeitada a proposta de criação de um cargo no Comando para as “Opressões” (Mulheres, Negros, LGBT*, Xenofobia e etc), demonstrando negligência pela luta dessas minorias, criando-se um cargo só para a questão feminina devido a recente organização delas no Coletivo Anita Garibaldi. O Jean que possui relações com a Lara chegou ao cúmulo de afirmar na reunião que as demais organizações de esquerda que possuíam o cargo de Opressões eram falidas e que terem este cargo era uma evidência de sua falência, associando a luta de opressões ao ‘peleguismo’.

Entretanto, o subterfúgio mais grave foi terem aprovado o ingresso sem querer referendar o nome da companheira sem a aprovação do Comitê Feminino (o órgão de representação das mulheres da UV), desrespeitando inclusive o próprio estatuto que diz claramente que os militantes que forem eleitos para cargos dirigentes devem ser referendados pelas bases a que militam, no caso citado, evidentemente, se trataria da base feminina, uma vez que o cargo era de representação das mulheres, e não de uma base regional ou qualquer outro cargo convencional.

ANEXO 3: Desrespeito a autonomia das mulheres do Comitê Feminino

Tudo isso que foi feito, a seguir: ferir a autonomia das mulheres, o estatuto, e os próprios critérios básicos de emulação, além de negligenciar as demais opressões, foi feito com o objetivo de impedir a indicação da companheira Mylena, que tem enorme embasamento teórico e prático na luta não apenas das mulheres, como da causa negra e LGBT*, devido as suas conhecidas divergências com os elementos esquerdistas – em especial o Daniel Mont'Serraint, por suas posturas sectárias – em decorrência dela sempre defender o programa da UV integralmente, e não apenas as partes que lhe convém.

Isto também foi feito com o objetivo, já previamente planejado, de minar ao máximo possível a liderança do Comandante Torres e de isolar ainda mais a base fundadora da UV em Pernambuco, facilitando o caminho para as acusações que se seguiram, de forma cínica e desonesta de que os companheiros de Pernambuco seriam pelegos, oportunistas e estariam a fazer “complô” com o PCB (sic!).

6. Ultrapassando o limite do absurdo

O estopim da ruptura interna se deu quando o Comandante Geral Torres escreveu um texto alertando as bases contra os desvios esquerdistas. Ciente que um debate eleitoral se avizinhava o camarada Torres procurou manter a todo custo a unidade do partido, citando o caso eleitoral apenas para exemplificar o combate as posições principistas, tanto de direita como ‘de esquerda’, preparando os camaradas com as posições mais discrepantes (seja participar a todo custo das eleições, seja negar totalmente o processo eleitoral burguês) de que a decisão que seria tomada seria de caráter tático, e não como um principio universal.

Qualquer leitor bem intencionado ou que saiba minimamente interpretar um texto deduziria facilmente estas questões, como prova que o texto foi divulgado e elogiado tanto pelos membros da base que defendiam participar das eleições como por outros que defendiam categoricamente o voto nulo. Inclusive o camarada além de defender a unidade do partido, cumpria a ultima deliberação interna e consensual do Comando acerca do assunto, em que a resolução sobre as eleições deveria ser tomada por um viés tático, rejeitando-se completamente qualquer debate principista sobre o assunto.

Em seguida os membros sectários do Comando Nacional decidiram publicar uma nota provocativa, defendendo categoricamente o boicote eleitoral, atropelando completamente o debate eleitoral que ocorreria no dia seguinte e desrespeitando as deliberações do Comando sobre não defender publicamente nenhuma posição prévia sobre as eleições burguesas até o partido tomar uma posição, além da já referida deliberação consensual de não defender o boicote eleitoral por principio, algo que poderia ser mudado com o debate eleitoral com as bases, mas que, jamais antes deste, atropelando de forma oportunista o próprio debate e a unidade do partido.

Utilizando-se dos subterfúgios mais cínicos e hipócritas, alguns membros do Comando chegaram a dizer que o texto seria legítimo por ter sido publicado no Vermelho à Esquerda, órgão independente, como se cada militante fosse livre para defender posições contrárias as deliberações tomadas, desde que não fosse no blog da UV (sic!).

Além disso, chegaram a dizer que o texto publicado pelos sectários não defendia o boicote, zombando da capacidade interpretativa dos camaradas que bastava ver a foto da publicação (com os dizeres “Eleição é farsa! Não votar!”) para saber claramente o conteúdo que visava defender.

ANEXO 4: Clara defesa do boicote

Outra alegação é de que o texto seria justificado, pois estaria em oposição ao texto do Comandante Torres, que também teria atropelado o debate eleitoral. Esta é mais uma acusação mentirosa visto que o camarada Torres não defendeu a participação no processo eleitoral ou voto em algum candidato, nem das eleições que se avizinhavam, ele tratava explicitamente, apenas se preocupando em defender a posição que já havia sido deliberada de tratar o debate por uma forma tática, e não principista.

Sem mais argumentos, chegando ao cúmulo da canalhice covarde, alguns membros bradaram “não se pode criticar o esquerdismo dentro da organização, visto que ela é ampla!”, como se estes mesmos membros não criticassem abertamente (e neste aspecto de forma correta, como todos fazemos) os desvios de direita, ou seja, o reformismo e o ‘peleguismo’. Agindo de tal forma hipócrita, apenas comprovaram que o texto os incomodou não por qualquer questão relacionada as eleições, mas sim, por criticar categoricamente os desvios esquerdistas, os quais implicitamente assumem de forma categórica pelas suas práticas.

O Comandante Torres reagiu removendo o texto do Jean e propondo uma punição para o mesmo dentro do Comando, o que foi prontamente negado pela tendência esquerdista que havia planejado tudo, chegando a ofendê-lo, e até ameaça-lo fisicamente (vejam até que ponto chegaram estes senhores!), ordenando-o que removesse sua publicação sem querer esperar e travar um debate entre o Comando para resolver o impasse.

Sabendo serem capazes de tudo, como é típico de todos os esquerdistas, Torres foi obrigado a tomar medidas preventivas para impedir mais violações golpistas do centralismo democrático e do programa do partido. Recentemente a própria página da Unidade Vermelha foi atacada, com suas fotos históricas removidas, mostrando que se o camarada não utilizasse de sua autoridade para garantir a defesa das páginas da UV e do VáE, provavelmente elas nem existiriam mais. Podemos lamentar, entretanto, do camarada não ter utilizado suficientemente de sua autoridade a ponto de impedir os estragos causados na página da Unidade Vermelha.

Conclamamos todos os militantes sinceros da Unidade Vermelha a defenderem categoricamente o nosso programa e os nossos princípios revolucionários, renegando todos os que violaram o centralismo democrático, pisaram sobre o programa e sabotaram a unidade do partido.

É dever essencial de todo militante da UV defender o seu programa, e quando uma ligeira maioria do Comando (principal responsável por defendê-lo) passa a desrespeita-lo continuadamente, só nos resta tomar as medidas necessárias para salvar os princípios sagrados que nos fizeram construir a Unidade Vermelha. Nem que para isso tenhamos que reconstruí-la, e os que violaram seu programa e princípios, que escolham um bom nome para sua nova sectária organização, pois jamais serão dignos do nome Unidade Vermelha, que como o próprio nome diz, é inimiga do sectarismo e da divisão na esquerda brasileira.

Aos verdadeiros e honestos camaradas, nossos sinceros, mais que nunca,

À Unidade!