Era dia de sol, um sábado perfeito de um feriado
imperfeito. Era o sétimo dia do antigo sétimo mês do calendário de Roma,
Setembro. Dia que os algozes da democracia marchavam e desfilavam, e seus
generais esbanjavam estrelas e condecorações orgulhosas de tortura e crimes
obscuros da história obscura de nosso país. Dia de celebração da independência
do Brasil. Somos independentes? Esqueceu-se de avisar ao povo.
Estávamos lá, a
Unidade Vermelha, como sempre na linha de frente das lutas pela libertação de
nosso povo! Ainda antes do ato a PMERJ fazia uma varredura nos arredores do
local de concentração do ato, revistando e coagindo. Assim nosso camarada foi
detido e encaminhado à delegacia, sem antes ser perseguido por uma quadra
inteira por dois policiais armados. Ali a tensão já começava a se intensificar,
com outras companheiras sendo presas por portarem spray de pimenta, mesmo
dentro do limite legal para porte.
Escapamos e fomos para a concentração. A
PMERJ fazia duas barreiras, uma em frente e outra atrás da concentração, nos
impedindo de chegar à avenida que leva o nome do homem que chamamos de Mãe dos
Ricos, onde haveria o desfile. Em um momento, sem motivo algum, os policiais
que integravam a barreira que se postava atrás de nós decidiu ir para o outro lado
passando bem no meio de nós, jogando spray de pimenta e disparando a queima
roupa, atingindo a cabeça de uma moça que logo foi atendida pelos socorristas.
Decidimos então dar uma volta. Enganando os policiais que tentaram nos seguir -
mas nosso cordão de isolamento os manteve afastados – demos uma volta em alguns
quarteirões, encontrando uma brecha perfeita ao lado da Praça da República,
onde não mais que vinte policiais faziam uma barreira. Vendo a multidão
correndo em sua direção, eles nem reagiram e abriram caminho para passarmos,
amedrontados com o poder do povo.
Conseguimos então chegar à Av. Presidente
Vargas e paramos em frente à enorme estátua de adoração ao genocida imperial,
Luís Alves de Lima e Silva, o pútrido Duque de Caxias e seus restos mortais
carregando a vergonha da histórica repressão aos povos. Lá estavam os generais
de hoje e de ontem, os generais da ditadura e da democracia. E gritamos contra
eles, gritamos contra o pseudo Führer Cabral.
Não demorou para o Choque começar
sua estúpida covardia e nos atacar pela retaguarda. A cada três bombas de gás
lacrimogênio que eram jogadas contra nós, duas eram jogadas no desfile dos
militares. E o gás afetava as pessoas que estavam na arquibancada assistindo o
desfile, famílias comuns que não tinham nada a ver conosco. Tivemos que correr,
e o Choque nos seguiu com carros e bombas de efeito moral explodindo em nosso
lado. Revidávamos como podíamos, mas contra a máquina de opressão não há muito
que se possa fazer quando jogada em poderio total contra nós. Em um momento
corremos para a frente do desfile. Entramos na Av. Presidente Vargas e corremos
à frente do desfile e dos militares, que tossiam e sufocavam com o gás que era
feito pra atingir a nós. Um resquício de humanidade nos fardados!
Ao final disso
tudo, um camarada nosso foi detido também, e sendo menor de idade logo foi
liberado e voltou à militância. Em nossas casas, os noticiários diziam
orgulhosamente que meramente tentamos atrapalhar o desfile, e o caríssimo
comandante da PM afirmava que não houve famílias atingidas pelo gás nas
arquibancadas. E, sem surpresas, víamos a ‘grande’ mídia dar suporte à ditadura
mascarada de democracia. O ato mostrou mais uma vez a combatividade da
juventude carioca, lançada as ruas mais uma vez para enfrentar a tirania e a
opressão, em busca do mundo novo que há de vir. o futuro nos pertence.
À
Unidade
- Subcomandante Flávio